As instabilidades econômicas em todo o mundo afetaram negativamente o desempenho dos ativos de renda variável, como as ações e fundos de investimentos, no ano passado. O movimento ainda trouxe impacto negativo em demais setores que envolvem algum grau de risco, como os criptoativos bitcoin (BTC) e ethereum (ETH). Além disso, colapsos em gigantes de criptomoedas, como o caso da FTX, também abalaram impactaram as ações do setor.
Apesar das incertezas e dúvidas que ainda pairam no ar, há diversos projetos que podem impulsionar o segmento, como a Web3 e o metaverso.
Confira as tendências para o mercado cripto em 2023.
Criptomoedas
É importante ressaltar que o setor de criptoativos possui um ciclo natural que envolve momentos de alta e baixa. No ano passado, bitcoin e ethereum tiveram redução do valor de mercado influenciados por fatores externos. Entre eles, a instabilidade política e econômica global. Ainda não é possível saber quando será o momento da recuperação.
Mas, de forma similar ao mercado de ações, em projetos consistentes, a retomada é natural e esperada. Alguns especialistas defendem que o preço mínimo do bitcoin (BTC) gira em torno dos US$ 15 mil, patamar registrado no final de 2022. Hoje, o principal criptoativo do mercado tem preço por volta dos US$ 23 mil.
No entanto, a cada quatro anos, o número total de bitcoins disponíveis cai pela metade, o que altera a relação oferta versus demanda, elevando o preço. Esse processo é conhecido como “halving“, e o próximo evento está marcado para 2024.
Por sua vez, a atualização do Ethereum, conhecida como “The Merge”, impacta diretamente a segunda rede blockchain mais importante do mercado. Aplicado em setembro de 2022, o processo alterou o mecanismo de consenso do Proof-of-Work (PoW) para Proof-of-Stake (PoS). Como benefícios, o PoS promete reduzir o consumo de energia utilizada por computadores durante a mineração, melhorar os custos, elevar a escalabilidade das transações na rede e ser mais sustentável.
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Blockchain e tokenização
Seja no mercado imobiliário, em atividades cartoriais, assinaturas digitais ou em financiamentos, o uso da blockchain e dos contratos inteligentes (smart contracts) têm potencial para fomentar a criação de diversos novos negócios.
Prova disso é que a blockchain é a base para o desenvolvimento de ecossistemas revolucionários, como foi com os NFTs (non-fungible tokens) e como promete ser com a Web3.
Segundo a Brandessence Market Research, o mercado global de blockchain girava em torno de US$ 4,62 bilhões em 2021. Entretanto, até 2028, a estimativa é de um crescimento estrondoso, chegando a US$ 173,6 bilhões.
Na Web 3.0, mais do que oferecer segurança para os dados dos usuários, a blockchain tem poder para limitar a influência das grandes empresas de tecnologia com a descentralização.
Mas a promessa da internet “livre” depende, também, da adoção em escala dos tokens, uma espécie de chave eletrônica ou código que representa determinado ativo no mundo digital.
Assim como os NFTs, as propriedades intelectuais, moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) e ações de empresas de capital aberto são ativos que podem ser tokenizados. Dessa forma, a consultoria Grand View Research estima que a tokenização da economia vá atingir pouco mais de US$ 13,5 bilhões (R$ 70 bilhões) até 2030.
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Real Digital e CBDC
Atualmente, nações, como Austrália, Japão e Reino Unido, começaram a implementar as versões digitais de suas moedas. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) tem estudado, ao lado de players, como HSBC, Citigroup e MasterCard, o melhor modelo para implementar o dólar digital.
Neste sentido, o Brasil prevê a chegada da sua moeda digitalizada para o final de 2024.
De acordo com o BACEN, o real digital será uma Central Bank Digital Currency (CDBC). A diferença para o dinheiro em espécie seria justamente o tipo de emissão, já que a autoridade monetária poderia emitir o real virtualmente.
Diferente das criptomoedas, o real digital será regulado pelo Banco Central, ou seja, não será descentralizado.
Ainda que a CDBC nacional não seja uma criptomoeda, o real digital contará com uma blockchain própria, para que o ativo seja utilizado no atacado por grandes empresas, e os consumidores possam usufruir de stablecoins atreladas ao real.
Para automatizar o processo, será necessário uma integração com sistemas de pagamentos e tecnologias como Internet das Coisas (IoT), o que pode alavancar novos investimentos e o desenvolvimento de soluções. As necessidades decorrentes da proposta de digitalização do dinheiro nacional podem, ainda, resultar em iniciativas independentes nas empresas durante a fase de testes.
NFTs
Segundo dados da plataforma Dapp Radar, o volume movimentado em NFTs foi de US$ 24,7 bilhões em 2022, leve recuo sobre 2021, que teve US$ 25,1 bilhões no setor de tokens não-fungíveis. Isso tudo graças à cotação elevada e ao hype dos tokens, sobretudo no mercado de arte digital.
Entretanto, se no biênio 2021-2022 muitas NFTs chamavam a atenção por serem únicas e oferecerem como benefícios o acesso a eventos exclusivos, com o recuo do mercado esta dinâmica deve ser diferente. Os tokens podem ser usados pelas marcas para estreitar a relação com criadores de conteúdo e consumidores.
Em parte, essa tendência já é realidade com a oferta de itens em jogos, como Fortnite, The Sandbox, Axie Infinity e Decentraland.
Produtos raros, como armaduras, armas, roupas, bebidas e tênis, são disponibilizados por grandes empresas. Nike, Adidas, Coca-Cola e Louis Vuitton são exemplos de empresas que ingressaram com força nos últimos anos. A perspectiva é que mais projetos próprios saiam do papel de forma simultânea ao amadurecimento do ambiente imersivo.
Regulamentação
Ao mesmo tempo do crescimento e consolidação da criptoeconomia, muitas exchanges colapsaram a partir da falta de liquidez. O caso mais emblemático foi justamente o da FTX, corretora que chegou a valer US$ 32 bilhões, mas que entrou com pedido de falência depois que o dono, Sam Bankman-Fried, passou a utilizar recursos da companhia de forma indevida.
Além da FTX, o fundo de hedge Three Arrows Capital e a plataforma de empréstimos Celsius – grandes players do mercado – já haviam seguido o caminho da falência. O presidente da Securities and Exchange Commission (SEC) – espécie de CVM norte-americana -, Gary Gensler, já declarou que a entidade deveria regulamentar o setor.
As autoridades reguladoras, que já estavam de olho em problemas deste tipo, iniciaram a normatização das criptomoedas, com a criação de regras específicas. Com projetos de senadores, como Roger Marshall e Elizabeth Warren, a expectativa é de um marco regulatório no país em 2023.
O Brasil já se adiantou no tema. Em novembro de 2022, o Congresso aprovou o Projeto de Lei 4.401/2021. Conhecido como ‘PL Cripto’, o texto, que foi sancionado no mês seguinte, resultou na lei 14.478/2022 e entra em vigor no prazo de 180 dias – em junho.
A nova legislação que regulamenta as atividades das empresas estabeleceu, entre outros pontos, a punição para crimes de estelionato e a necessidade de compartilhamento de mais informações pelas exchanges junto aos órgãos reguladores.
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Descentralização (DAO)
Na esteira das criptomoedas, do metaverso e dos NFTs, por conta da sua segurança e capacidade de gerar negócios, a descentralização vem avançando de maneira acelerada. A própria Web 3.0 propõe que a internet seja descentralizada, com a redução do poder de influência das big techs.
Com as redes blockchains e os contratos inteligentes, é possível definir regras que, caso sejam descumpridas, podem transferir os recursos para a parte prejudicada de forma automática.
E o melhor: uma vez definidas, essas regras não podem ser alteradas. No momento de uma transferência, é necessário fazer a validação, que é efetuada pelos próprios usuários da rede.
O interesse das empresas de diversos segmentos da economia pela blockchain não é por acaso. Quando há mais segurança, fica muito mais fácil fechar um negócio ou firmar um contrato. Logo, meios de pagamentos, mercado imobiliário, atividades cartoriais, financiamentos, tomada de crédito e até mesmo o registro de propriedade intelectual podem ser desenvolvidos com essa tecnologia que funciona como um grande livro de dados públicos.