O ESG já é uma preocupação recorrente entre as empresas. O conceito surgiu em 2004 em uma publicação do Banco Mundial em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, 20 instituições financeiras de 9 países – inclusive o Brasil – se uniram para buscar uma forma de incluir questões ambientais, sociais e de governança no mercado de capitais.
A sigla faz referência direta a “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), um conjunto de iniciativas para que empresas contribuam com a sociedade, a chamada responsabilidade social.
O mundo está de olho nessas ações, desde cobranças para que corporações assinem tratados de comprometimento como foi abordado na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27) em novembro de 2022, até a pressão do próprio mercado, que passou a ter o ESG como critério na hora de investir – de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria PwC, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa farão esse filtro e 77% dos investidores não adquirir produtos não ESG nos próximos anos.
Transparência e segurança anti-fraude para ações voltadas ao ESG
Diversas empresas criaram ações e metas voltadas para essas iniciativas. Porém, nem todas estavam realmente comprometidas e alguns casos de greenwashing — prática fraudulenta que consiste em mascarar os impactos ambientais para manter a opinião pública a favor da companhia, mas sem realmente investir em mudanças estruturais e voltadas, principalmente, ao meio ambiente — começaram a aparecer, revelando uma necessidade urgente de transparência.
Nesse contexto, o blockchain, mesma tecnologia utilizada para gerar ativos digitais, como as criptomoedas e os NFTs, surgiu como uma possível solução para esse problema. Ela já era utilizada em alguns setores, principalmente para garantir a segurança de dados e processos.
Isso porque, o blockchain é considerado hoje, um dos meios tecnológicos mais seguros para registrar e confirmar transações, por conta de seu funcionamento em cadeia, como o próprio nome sugere, que inviabiliza a mutação ou fraude de documentos, contratos e outras informações relevantes sem que todas as partes estejam de acordo.
A tecnologia blockchain é capaz de rastrear o movimento, em tempo real, da cadeia de suprimentos, acompanhando processos fabris, de distribuições de alimentos e de rastreamento de lotes residuais, por exemplo. Códigos rastreáveis, contratos seguros, e até mesmo registros em imagem de todas as etapas do processo são alguns dos fatores que dificultam qualquer tentativa de fraude e fazem com que as empresas precisem prestar contas além de relatórios próprios.
ESG descentralizado
Algumas startups também estão investindo em unir as iniciativas ESG com o blockchain. De acordo com um relatório do Distrito, feito em parceria com a consultoria KPMG, o Brasil conta com 802 startups facilitadoras do movimento ESG, as chamadas ESG Enablers — que receberam um volume de US$ 89,8 milhões por meio de 34 aportes apenas no primeiro semestre de 2021.
Dentre elas, a MOSS criou um token, o Moss Carbon Credit (MCO2), que usa tecnologia blockchain e é lastreado em crédito de carbono. O ativo é direcionado para projetos de preservação do planeta, tendo como base a compensação do uso de carbono. Mais de 300 empresas, como Gol, Hering, Ambipar e iFood fazem parte do ecossistema da climatech.
A tokenização dos créditos de carbono — certificados que comprovam que a atividade de uma empresa ou um projeto de conservação ambiental evitou a emissão de 1 tonelada de CO2, em determinado ano — também é um mercado em crescimento: em 2021, movimentou US$ 2 bilhões e a projeção da consultoria McKinsey é de alcançar US$ 50 bilhões em 2030.
E outra tendência que também tem sido vista com frequência é a ReFi (Regenerative Finance ou “Finanças Regenerativas”, em português), que incentiva pessoas e corporações a utilizar o capital para impulsionar mudanças sustentáveis. De forma prática, o dinheiro segue sendo do investidor, mas o rendimento é distribuído entre as iniciativas sociais cadastradas no sistema da plataforma global de finanças regenerativas.
O principal tipo de instrumento ReFi em uso hoje, são também os créditos de compensação de carbono e a tecnologia blockchain aparece, mais uma vez, como solução para garantir a transparência e liquidez desse mercado. Dessa forma, ao conectar os créditos de carbono ao blockchain, a transação pode ser rastreada para evitar gastos duplos e criar incentivos que beneficiem, de verdade, a sociedade e o meio ambiente.