Desde o surgimento do bitcoin (BTC), em 2008, as criptomoedas trilharam um grande caminho até se tornarem uma opção de ativo para os investidores. Aos poucos, o mercado se acostumou com a alta volatilidade e com uma proposta disruptiva, capaz de modificar a maneira como as pessoas fazem compras, recebem valores e pagam compromissos. Agora, a Argentina avança no recebimento de salários em moedas digitais. Entenda mais abaixo.
Argentina: salários com ativos digitais
De maneira gradativa, as moedas digitais começaram a ganhar permeabilidade, o que levou a aceitação por estabelecimentos comerciais. Atualmente, mais de 900 estabelecimentos no Brasil aceitam pagamentos em criptoativos, como o bitcoin (BTC) ou ether (ETH), de acordo com a CoinMap. Agora, as moedas digitais dão um novo passo para integrar de vez a economia real.
Na Argentina, o número de pessoas que usaram a Bitwage, uma plataforma americana para recebimento de salário do exterior em criptomoedas, registrou alta de 250% em 2022. Em entrevista, Jonathan Chester, CEO da companhia, disse que a quantidade de argentinos que escolheram receber seus vencimentos dessa forma “pode ser ainda maior se outros métodos e plataformas de pagamento também forem levados em conta”.
Ao atender uma gama de profissionais na área de TI, como engenheiros de sistemas, desenvolvedores, gerentes de projeto, codificadores e designers, a operação da Bitwage no país teve o terceiro maior faturamento do mundo, sendo o primeiro lugar dos Estados Unidos, onde foi fundada em 2014.
Além dos trabalhadores de tecnologia, estão consultores de marketing, tradutores, psicólogos e professores de inglês entre aqueles que podem receber os salários em moedas digitais tradicionais, a exemplo do bitcoin (BTC), ether (ETH) ou stablecoins atreladas ao dólar.
Por que ter o salário pago em criptomoeda?
O maior espaço para ativos digitais na economia real não é de agora. Em 2021, El Salvador foi o primeiro país do mundo a adotar o bitcoin (BTC) como a sua moeda oficial, por exemplo. Basicamente, a ideia era economizar com a comissão de remessas que drenavam cerca de R$ 400 milhões por ano dos cofres salvadorenhos.
Quando trazemos a Argentina para a pauta, é preciso lembrar do contexto econômico vivenciado pelo país. O maior entrave para a qualidade de vida da população local é a inflação. No acumulado do ano passado, os reajustes de preços dos produtos argentinos acumularam alta de 94,8%, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Só em dezembro, a inflação foi de 5,1%.
Para entender na prática o que isso significa, no Brasil, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador que mede o aumento de preços de produtos e serviços, ficou em 5,79% em todo o ano de 2022, e já impactou bastante na vida do consumidor.
Dessa forma, o pagamento em criptomoedas no país vizinho tem o objetivo de justamente proteger o poder de compra dos usuários. A Bitwage explica que os freelancer argentinos ganham, em média, US$ 3 mil. Os mais bem pagos, porém, conseguem obter US$ 5 mil em renda. Não é pouco. O salário mínimo por lá é de 65,4 mil pesos, cerca de US$ 181.
Pagamento de salário em cripto avança no Brasil
Nos últimos anos, a utilização das criptomoedas vem sendo considerada importante por conta da sua descentralização. Ao operar dessa forma, é possível escapar das influências das políticas econômicas de diferentes governos, o que é importante para fugir do impacto das crises financeiras que abalaram regiões como a América Latina.
De acordo com relatório da plataforma Chainalysis, o Brasil movimentou cerca de US$ 791 bilhões em criptomoedas entre junho de 2021 a junho de 2022. Em entrevista, em setembro, ao InfoMoney, o diretor da Bitwage, Fabiano Dias, declarou que o Brasil fica logo atrás da Argentina na quantidade de negócios na região da companhia. E que existem algumas dezenas de usuários espalhados por outros países latinos.
Com a sanção presidencial da lei que regulamenta as atividades das empresas de criptomoedas, em dezembro, a expectativa é que novas formas de negócios possam despontar para facilitar a vida dos usuários no país nos próximos anos.